Pai que não paga pensão pode exigir
conviver com os filhos?
Em regra, pensão alimentícia é uma coisa, convivência é outra. E os dois
são direitos DOS FILHOS.
Juridicamente, as duas coisas não estão condicionadas.
Mas, emocionalmente, estão diretamente relacionadas.
São muito comuns os casos de pais que não pagam um valor adequado de
pensão, ou não pagam em dia, por exemplo. O genitor com quem os filhos moram,
normalmente, não deixa de prover aos filhos todo o necessário, ficando, assim,
sobrecarregado financeiramente. O que não paga, fica, nesse aspecto,
confortável com a situação, sabendo que os filhos estão bem cuidados. Nesses
casos, infelizmente, é muito comum que o genitor guardião, num grau de
insatisfação extremo, conscientemente ou não, acabe afastando os filhos do
genitor que não paga a pensão. Seja comentando com os filhos sobre a falta ou
insuficiência da participação material desse pai, ou até mesmo proibindo ou
atrapalhando o convívio com ele (a).
Por outro lado, também são muito comuns as reclamações de pais separados
que demandam maior convívio com os filhos, pois entendem que são apenas
provedores materiais. Expõem que o genitor com quem moram os filhos, e os
próprios filhos, apenas o contatam para pedir dinheiro. Reclamam de falta de
flexibilidade do genitor guardião para alterar datas de convívio e da falta de
interesse dos filhos em vê-los, acreditando que isso é estimulado pelo
guardião. Sentem-se excluídos da família. E, quando a insatisfação desse
genitor atinge um ponto extremo, em muitos casos, infelizmente, ele usa da
ferramenta que acredita ser a sua única, seu único valor, como forma –
consciente ou não – de barganha: deixa de pagar a pensão.
Também é comum que o genitor afastado do convívio com a família, diante
do sofrimento pelo aparente desinteresse dos filhos, não conseguindo lidar com
isso, de certa forma desista, buscando “recomeçar”, constituindo uma nova
família, com novos filhos.
Então, um alega que são os filhos que não têm interesse por ele e que não
tem condições financeiras de custear a pensão, pois tem uma nova família para
sustentar. Enquanto o outro alega que é o primeiro que não tem interesse pelos
filhos e que, se estivesse preocupado, ajudaria financeiramente.
É um ciclo
vicioso.
E, infelizmente, uma história que se repete em inúmeras famílias.
Em qualquer caso, os filhos ficam desamparados nos dois aspectos: o
material (a pensão) e o emocional (a convivência).
Como resolver a
questão?
Pensando-se em medidas judiciais, o pai com quem moram os filhos,
provavelmente, proporia, em nome dos filhos, uma ação de fixação, revisão ou
execução de alimentos, conforme o caso. E o julgamento dessa ação
desconsideraria absolutamente a questão da pouca convivência dos filhos com o
“devedor” da pensão, caso fosse eventualmente levantada por ele.
E o pai que deseja conviver mais com os filhos e não paga alimentos,
proporia uma ação de regulamentação ou modificação de guarda e convivência,
possivelmente cumulada com um pedido de reconhecimento de alienação parental,
se o caso. E, nessa ação, o juiz não poderia obrigá-lo ao pagamento da pensão.
Ou seja, apesar de intimamente relacionadas, no Judiciário, as questões
não se comunicam.
Talvez, então, um primeiro passo para uma verdadeira solução seja a
conscientização com relação a esse cenário pelos pais, com o reconhecimento
recíproco das dificuldades e sentimentos do outro.
Nesse contexto, se eu pudesse arriscar fazer algumas recomendações aos
pais nessa situação, diria o seguinte:
Ao genitor que
mora com os filhos (aqui identificado como A)
Tente entender o sofrimento B. Tente se colocar em seu lugar. Como você
se sentiria se passasse a ter um convívio reduzido com os seus filhos,
exatamente nos moldes que B tem? Se essa escolha não foi sua, não pense que B
tenha que sentir as consequências de seus atos, porque, no final, quem sentirá
mesmo são os seus filhos. Lembre-se que conviver com os pais é uma necessidade
psicoemocional dos seus filhos, muito mais do que um direito dos pais.
Pense, então, em como os seus filhos estão se sentindo, mesmo que não
demonstrem (às vezes, eles não conseguem sofrer a perda e demonstram estar tudo
bem, o que é um problema). Coloque-se no lugar de seus filhos. Como você se
sentiria tendo o seu pai/a sua mãe tirado (a) de seu convívio na
infância/adolescência, mesmo com todos os defeitos deles?
Lembre-se que os filhos não precisam conhecer, antes da hora, os
defeitos dos pais, nem tomar conhecimento das “coisas de adulto”. Não fale na
frente deles. Eles escutam tudo. Com o tempo, eles perceberão sozinhos, de
forma saudável, que os pais são humanos e falham. Por enquanto, dê-lhes o
direito de ter a segurança de ter dois pais em quem podem confiar
integralmente. É preciso reforçar, freqüentemente, que os dois pais os amam
igualmente e que a separação não teve nenhuma relação com os filhos.
Por mais que você ache que B não liga, não se esforça, imagine que ele
se sente excluído e, talvez, por falta de forças, ao invés se esforçar em dobro
para manter o contato com os filhos diante das circunstâncias que os separaram
fisicamente, ele (a) se afasta, para não se machucar mais.
Com esse entendimento, tente, como uma grande demonstração de amor aos
filhos de vocês, se esforçarem muito para trazer esse (a) pai/mãe ausente de
volta, reconhecer-lhe o valor, ajudá-lo (a), dar-lhe forças, mostrar-lhe como é
importante para os filhos, e aos filhos o quanto são amados por ele/ela. Faça
isso sem seus filhos perceberem, sem buscar reconhecimento. Faça para que seus
filhos se sintam seguros e muito amados pelos dois pais, e sejam adultos
felizes. Faça por eles.
Ao genitor que
não mora com os filhos (aqui identificado como B)
Tente entender as dificuldades de A. Tente se colocar em seu lugar.
Como você se sentiria se cuidasse, na maior parte do tempo, dos seus filhos,
custeasse a maior parte de seus gastos, e A apenas aparecesse apenas
esporadicamente para ver os filhos ou, se A quisesse estar sempre presente
fisicamente, mas não contribuísse materialmente? Se essa escolha não foi sua,
não pense que A tenha que sentir as consequências de seus atos, porque, no
final, quem sentirá mesmo são os seus filhos. Lembre-se que a pensão é para
atender às necessidades dos seus filhos. O dinheiro será usado para o conforto
deles, não para o guardião.
Pense, então, em como os seus filhos estão se sentindo, mesmo que não
demonstrem (às vezes, eles não conseguem sofrer a perda e demonstram estar tudo
bem, o que é um problema). Coloque-se no lugar de seus filhos. Como você se
sentiria tendo o seu pai/a sua mãe tirado (a) de seu convívio na
infância/adolescência? Imagine que somada a essa grande tristeza, viesse uma
dificuldade financeira, com mais alterações na sua vida infantil como mudança
de endereço, de escola, ou deixar de fazer passeios que você gostava, ou
presenciar o seu pai/a sua mãe frequentemente preocupado (a) com a falta de
dinheiro.
Lembre-se que os filhos não precisam conhecer, antes da hora, os
defeitos dos pais, nem tomar conhecimento das “coisas de adulto”. Não fale na
frente deles. Eles escutam tudo. Com o tempo, eles perceberão sozinhos, de
forma saudável, que os pais são humanos e falham. Por enquanto, dê-lhes o
direito de ter a segurança de ter dois pais em quem podem confiar
integralmente. É preciso reforçar, frequentemente, que os dois pais os amam
igualmente e que a separação não teve nenhuma relação com os filhos.
Por mais que você ache que A quer afastar seus filhos de você, imagine
que A possa precisar de reconhecimento pelo trabalho duro na criação dos filhos
de vocês. Talvez, A se apegue muito aos filhos, que lhe reconhecem o esforço, e
isso gera um vínculo forte entre eles. Talvez, seus filhos, conscientemente ou
não, se sintam abandonados (mesmo que isso não seja real, pode ser que eles
sintam assim, em seu imaginário) e, talvez, eles se afastem, para não se
machucarem mais. É preciso reforçar, com palavras e, principalmente, atitudes,
que você ainda está ali e os ama da mesma forma. Na separação, ainda que pareça
injusto, o pai que não mora com os filhos, precisa de um esforço em dobro para
manter o contato com os filhos, diante das circunstâncias que os separaram
fisicamente.
Com esse entendimento, tente, como uma grande demonstração de amor aos
filhos de vocês, se esforçarem muito para participar o máximo, financeiramente
e emocionalmente, da vida de seus filhos. Enxergue a obrigação de criação dos
filhos como uma obrigação sua, não só do guardião. A criação de seus filhos é
seu dever, não é ajuda. Seu esforço verdadeiro será reconhecido pelo outro
genitor, ainda que ele não assuma, e isso será transmitido aos seus filhos,
ainda que indiretamente. Faça isso sem seus filhos perceberem, sem buscar
reconhecimento. Faça para que seus filhos se sintam seguros e muito amados
pelos dois pais, e sejam adultos felizes. Faça por eles. Seus filhos terão
grande respeito por você e se sentirão amparados e seguros e desejarão estar
com você.
Fonte: Jusbrasil.
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