Reflexões
sobre coisas que não deveriam existir no Brasil
Estou
pensando que realmente muitas coisas não deveriam existir. Começaria, por
estarmos em março, pela violência que agride e mata milhares de mulheres,
continuaria pelo trabalho forçado e infantil, todos com grave violação à vida,
à liberdade, à educação, à segurança etc.
São tantas
coisas que não deveriam existir no Brasil: pobreza, discriminação, corrupção...
Não deveria
existir a intolerância, o abuso de poder, autoridades que falam e agem contra
os princípios e regras constitucionais.
Não deveria
existir o desprezo aos direitos sociais, o descumprimento à lei ou a vingança
institucional, novo conceito a ser pesquisado pelos sociólogos após as inúmeras
perseguições sofridas pela Justiça do Trabalho, com uso de outras instituições
e quase sempre decorrentes de descontentamentos pessoais. Que outro ramo do
Poder Judiciário incomoda tanto os donos do capital, mesmo que seja por fazer
cumprir a lei? Não é à toa que sofra tantos ataques em sua missão de equilibrar
interesses entre capital e trabalho, inclusive com respaldo e alarde da grande
imprensa.
Será que
desde a colonização tem este país vivenciado tantas coisas que “não deveriam
existir” (escravidão, clientelismo, patrimonialismo) que ficou difícil superar
a visão da exploração pela prática da valorização social do trabalho e livre
iniciativa?
Sugiro que
elevemos o debate se realmente queremos um Brasil melhor. Um país que é o
segundo do mundo em acidentes e mortes no trabalho, onde 70% de seus
trabalhadores recebem salários reduzidos (até dois salários mínimos) e mais de
40% nem sequer começaram o ensino médio, não mereceria uma discussão mais
aprofundada sobre saúde, educação e relações de trabalho para o
desenvolvimento?
A
consolidação do Estado Democrático de Direito, salvo para os que acham que ele
também “não deveria existir”, exige firmeza e determinação na defesa dos
fundamentos da Constituição da República e na transformação da cultura da
“banalização do mal e da exploração” para a cultura da cidadania, do
pluralismo, do respeito e da dignidade da pessoa humana. Isso, sim,
transformará o Brasil.
Fonte: http://www.conjur.com.br/2017-mar-11/katia-arruda-reflexoes-coisas-nao-deveriam-existir#author
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