Comércio eleva desconto sem reduzir preço antes da Black Friday
Mesmo
antes da Black Friday, período conhecido por concentrar notificações de
propaganda enganosa, boa parte dos descontos que os consumidores encontram nos
sites das grandes lojas não representa reduções de fato, apesar de muitas vezes
trazerem descontos tentadores.
A
Folha monitorou o preço de 6.875 itens, por 15 dias (desde o dia 31),
espalhados por nove das maiores lojas de varejo do país que comercializam
eletroeletrônicos.
A
análise dos dados mostra que as empresas fazem constantes alterações nos valores.
O que chamou a atenção é que essa oscilação ocorre não apenas no preço final
dos produtos-o "por" escrito nos cartazes de promoção. Há variações
também no "de", o preço original.
Esse
tipo de variação ocorreu, por exemplo, com um celular Galaxy J5, com 16GB, no
Extra.
De
um dia para o outro, o "de", o valor que seria o ponto de partida,
foi alterado. Passou de R$ 863 para R$ 1.699, crescimento de 97%. O
"por" também subiu, indo de R$ 799 para R$ 972, uma alta de 22%.
Com
a mexida nas duas pontas do preço, o desconto final cresceu de 7% para 42%,
mas, na prática, o celular ficou mais caro.
Também
foram detectados casos em que o valor final do item não mudou, mas o
"de" subiu. Assim, o desconto cresceu sem que o preço real nem sequer
fosse alterado.
O
levantamento feito pela reportagem acompanhou exatamente o mesmo produto (cor,
tamanho, além do código de identificação).
ARTIFICIAL
Na
média, cerca de 12% dos itens monitorados na Casa Bahia e 11% no Ponto frio se
enquadraram em algum dos tipos de aumento artificial de descontos. Foram os
percentuais mais altos entre as lojas acompanhadas.
Se
analisadas categorias isoladas de produtos, o volume chega a 22% dos fogões das
Casas Bahia e 21% do Ponto Frio; na Ricardo Eletro, 35% dos micro-ondas tiveram
esse tipo de oscilação.
As
redes varejistas com menores percentuais de itens com desconto artificial foram
Magazine Luiza (0,4%) e Fast Shop (1%).
O
levantamento, no entanto, identificou que há também descontos verdadeiros.
Outra vez Ponto Frio e Casas Bahia se destacam. Foram as redes com a maior
quantidade de itens com descontos "reais" (o valor efetivamente
cobrado caiu).
As
empresas negam que estejam tentando enganar o consumidor. Afirmam que a
determinação do preço do produto é complexo e dinâmico, por isso podem aparecer
diferentes valores.
O
Procon-SP, por seu lado, diz que são passíveis de autuação casos em que o
varejista anuncia preços que jamais foram praticados, com o objetivo de simular
promoção. Essa fraude é conhecida como maquiagem de preço.
Especialistas
argumentam que o preço é formado por muitas variáveis. Também explicam que, não
raro, as mudanças são estratégias de marketing para alimentar o desejo de
consumo.
OUTRO LADO
As
empresas que apresentaram as maiores oscilações de preços no levantamento
realizado pela Folha afirmam que a precificação dos produtos é complexa
e envolve critérios diversos. Elas negam que estejam tentando enganar o
consumidor.
A
Via Varejo, que administra Casas Bahia, Pontofrio e Extra, diz que as ofertas
passam por "eventuais alterações" devido a "políticas
mercadológicas que envolvem uma série de fatores".
Campanhas
promocionais que ocorrem sazonalmente também impactam o preço, segundo a
varejista.
A
empresa cita ainda o conceito de market place (espaço na loja virtual reservado
a lojas parceiras) para justificar as variações.
"É
um ambiente administrado por grandes empresas de varejo no comércio eletrônico
que permite a lojistas de todos os tamanhos ofertarem seus produtos em sites de
alta visibilidade, viabilizando a pesquisa de centenas de ofertas em um único
local e permitindo ao cliente comparar preços, condições de pagamento e prazos
de entrega", diz a empresa em nota.
A
Via Varejo conta com aproximadamente 3.000 lojistas, que comercializam em torno
de 1,5 milhão de itens.
Sobre
o celular Galaxy no Extra identificado pela reportagem, cujo preço subiu e o
desconto apresentado ficou ainda maior, a empresa afirma que o item foi
oferecido por vendedores diferentes.
Para
o Submarino, é normal que haja flutuações nos preços, que podem ocorrer por
causa do "marketplace".
Outra
varejista citada, a Ricardo Eletro, diz que tem "o compromisso de buscar o
melhor preço para seus clientes" e que sua política de precificação
"deriva da intensa negociação de cada item e lote com seus fornecedores,
podendo, portanto, sofrer oscilação de preços e de seus respectivos descontos
segundo recomposição de estoque".
O
Walmart.com também afirma que "preza pelo respeito ao consumidor e
acredita que todo seu processo de precificação e promoções não confunde o
consumidor, prova disso é o bom desempenho do Walmart.com apurado por sérias
entidades de defesa do consumidor, como o Reclame Aqui e o Procon".
O
Magazine Luiza afirma que não faz alteração de preços em seus produtos do
e-commerce. O valor pelo qual o item é registrado permanece no site, segundo a
empresa.
Procurada,
a rede Fast Shop não se manifestou até a conclusão desta edição.
SAIBA MAIS
O
levantamento da Folha coletou, dia a dia, o preço de 6.875 itens, de 50
categorias de produtos, nas oito lojas de eletroeletrônicos que tiveram mais
reclamações na Black Friday de 2016, no site Reclame Aqui.
Foi
incluído também o Ricardo Eletro, que não estava na lista, mas tem operação
importante.
Inicialmente,
o levantamento acompanharia 319 itens, entre os mais vendidos on-line. Como as
telas dos sites mostram diversos outros produtos, optou-se por mapear todos que
aparecessem.
Foram
monitorados os preços de produtos exatamente iguais. Celular foi a categoria
com maior número de itens (1.471), seguido de geladeira (1.355) e fogão (594).
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DESCONTOS ARTIFICIAIS
Diferentes
métodos podem confundir o consumidor nos sites de lojas
1 - Preço sobe, mas desconto também cresce.
Apesar
de o produto ter ficado mais caro, o percentual do desconto apresentado se
mantém ou até aumenta.
Fonte: Folha de São Paulo.
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